25 fevereiro 2019

Veganismo é coisa de preto?


Talvez não sejam bem essas palavras que negros ouvem quando se declaram veganos. Mas as caras e bocas que recebemos de volta como resposta do nosso círculo afetivo (pais, parentes, amigos) querem dizer exatamente isso.

Talvez porque consumir certos animais e seus subprodutos de diversas formas e a sua exploração sejam tão enraizados e naturalizados que nunca ninguém pensou sobre isso. Talvez porque algumas famílias sabem que o negro na nossa sociedade já tenham problemas suficientes para lidar e acham besteira colocar mais uma coisa em nossas cabeças. Talvez porque não sabem muito o que significa e são avessos ao que é diferentes e externo aos costumes da comunidade.

Mas também pode ser porque o pouco que vemos e ouvimos sobre veganismo em canais de televisão, revistas e jornais é transmitido por pessoas brancas de classe média, que basicamente falam de receitas culinárias mirabolantes com ingredientes "chiques", passando longe do conceito global do termo. Aí não tem como rolar uma identificação mesmo.

Embora o mito da democracia racial tenha se esforçado para criar uma ideia de país integrado e miscigenado, sabemos que abismos separam negros e brancos, sejam oportunidades ou condições financeiras, costumes ou estilo de vida e etc.
Sabemos que a cor da pele é determinante para colocar as pessoas em caixinhas padronizadas: se é branco, gosta de sertanejo e rock; negro tem que gostar de samba e funk. E assim são construídos os nossos lugares na sociedade, seguindo rígidos padrões de comportamento e pensamentos.

Aí um indivíduo sai dessa caixinha e causa total estranheza.

Que é isso? Negro tem que gostar de churrasco, feijoada. Alface e ativismo animal é coisa de branco.

É necessário buscar sempre o que é melhor para a gente, como indivíduos, e para a nossa comunidade. Ativismo em suas diversas formas, a compaixão por todas as formas de vida, a reflexão sobre os diversos níveis de exploração e violência, o empoderamento alimentar e a nutrição saudável faz bem para todos, sem exceção. Muita gente não sabe disso, porque é confortável viver em uma caixinha pré-determinada ou porque a vida corrida leva para "o que dá pra fazer agora?". Mas descobrir algo que muda a forma como vemos o mundo é muito valioso. E qualquer um gostaria de passar por transformações ao longo da vida.

Por isso é muito importante nós, negros, estarmos em todas as partes. Quanto mais presentes estamos, menos a gente tem essa impressão de estranheza de estar em território que não é nosso. E assim mostrar que podemos ser o que quisermos ser e estar onde queremos estar, e mostrar que isso é possível para os nossos semelhantes.
Claro que com os devidos recortes, porque muitos espaços ainda são negados para nós, que só são conquistados com luta e determinação. Força de vontade de se fazer presente e respeitado, enquanto negros, não basta em muitas situações, inclusive dentro do veganismo enquanto "instituição".

Praticar o veganismo é para qualquer um com boa vontade de entender do que se trata. É barato, acessível, saudável. É um jeito de enxergar o mundo muito além de uma alimentação baseada em plantas. Está muito mais relacionado ao bem-estar geral da comunidade negra do que ela pode imaginar.

No final das contas "coisa de preto" é o que ele quiser. Estamos inseridos em uma comunidade, mas somos indivíduos únicos, com nossas vontades e ideais. E é muito libertador quando chegamos a essa conclusão.

Escrito por

Renata Balbino
Formada em Tradutora e Intérprete pela UNIBERO e especialista em finanças de empresas pelo Mackenzie

3 comentários:

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